Por psicóloga Carolina Penteado

Cuidar da saúde vai muito além do básico – é sobre se preocupar com uma alimentação nutritiva, com a prática regular de exercícios, com um sono reparador e com momentos de relaxamento que fazem toda a diferença no nosso bem-estar.

É exatamente essa a proposta da Cultura Wellness: promover hábitos saudáveis e um estilo de vida mais saudável. E não há dúvida de que isso pode trazer inúmeros benefícios para o nosso bem-estar.

Mas e quando o desejo de levar uma vida saudável se transforma em mais uma cobrança? Quando, em vez de promover qualidade de vida, ele passa a gerar culpa, frustração e a sensação constante de que nunca estamos fazendo o bastante?

No esporte, essa cobrança fica ainda mais evidente. Atletas – profissionais ou amadores – podem sentir que precisam treinar cada vez mais, ignorando sinais de cansaço e até mesmo lesões. O descanso, que deveria ser parte do processo, muitas vezes é visto como fraqueza. A frustração por não atingir um desempenho “perfeito” se torna pesada, como se o esforço nunca fosse suficiente.

E essa pressão não afeta só quem treina. Hoje, a ideia de “se cuidar” virou quase uma obrigação. Acordar cedo para se exercitar, seguir uma alimentação impecável, meditar, ser produtivo o tempo todo, e por ai vai.

Mas e quando não conseguimos? Vem a culpa. Como se simplesmente viver sem tantas regras fosse um erro.

As redes sociais intensificam essa pressão. Somos bombardeados por imagens de corpos “perfeitos”, rotinas impecáveis e performances de alto nível, como se esse fosse o único caminho para a saúde e o sucesso.

O que não aparece nos posts são as dores, as dificuldades, os dias de exaustão, as pausas necessárias. Isso cria uma falsa ideia de que, se você não está conseguindo acompanhar esse ritmo, o problema é você. Além disso, o discurso do “basta querer” pode ser perigoso.

Nem sempre conseguimos mudar nossa rotina ou nosso corpo apenas com força de vontade. Saúde e bem-estar envolvem diversos fatores, como acesso à alimentação saudável, tempo disponível para o autocuidado, condições físicas e mentais.

A ideia de que todos podem atingir o mesmo padrão, se apenas se esforçarem o suficiente, desconsidera as diferenças individuais e pode gerar um sentimento de fracasso injusto.

Outro ponto que merece atenção é a idealização do corpo perfeito: magro, definido, saudável o tempo todo.

Mas será que saúde tem um único formato? Será que bem-estar significa seguir uma cartilha rígida? O corpo não é uma máquina, e a mente também não.

Isso significa que devemos abandonar os hábitos saudáveis? Claro que não! O problema não está na cultura wellness em si, mas no modo como, muitas vezes, ela é vivida – como mais uma cobrança.

Cuidar do corpo e da mente deve ser algo que nos fortalece, e não mais um motivo de culpa ou exaustão.

Para isso, lembre-se que:

* O descanso faz parte do progresso.

* Saúde não tem um único padrão.

* Equilíbrio não é seguir regras rígidas, mas encontrar o que realmente faz sentido para você.

Que tal trocar a cobrança por mais gentileza consigo mesmo? Cuidar da saúde não precisa ser mais uma exigência impossível. Que o autocuidado seja, de fato, um cuidado – e não mais um fardo.