Quando entra o médico na vida do atleta?
13 de março de 2021
(Por Dr. Silvio Póvoa)
Existe uma concepção - que felizmente tem mudado - que o médico é o profissional a ser buscado quando se “está doente”. De fato, a Medicina sem dúvidas exerce um papel interessante em atletas lesionados. Atendidos por Médicos do Esporte e Ortopedistas, diversos atletas conseguem estabelecer o diagnóstico de uma dor, de um desconforto, ou de uma lesão, e, a partir disso, passam a focar em tratamentos e reabilitações que possibilitem a volta aos treinos com gás total, em plena capacidade.
Mas a Medicina tem mais para oferecer para um atleta do que só tratar lesões. Não que queiramos tomar o espaço de um treinador ou nutricionista, figuras igualmente essenciais na preparação de alguém para uma meta esportiva.
A avaliação médica
Em uma avaliação médica, a primeira coisa importante é entender quem é a pessoa que está ali na nossa frente. O quanto treina, quando treina e se a performance muda em diferentes horários de treino. O que come, o que não come. Se suplementa, e o que suplementa. Seu sono: onde dorme, como dorme, se tem sonolência durante o dia, se consegue descansar bem. Como tem ficado a questão sexual do atleta. Como se relacionam as atividades laboral e esportiva. No caso de mulheres, como anda a menstruação, o período pré e pós-menstruação, e os impactos disso na qualidade de treino, sono e na preferência de alimentos em diferentes períodos.
Buscamos também compreender fatores de risco para doenças, principalmente as cardiovasculares. Buscar dados como o perfil lipídico (colesterol, triglicérides) e comportamento da glicemia ou da pressão arterial nos ajuda não só a reconhecer esses fatores de risco para doenças cardiovasculares como a utilizarmos a atividade física que o atleta realiza como parte do processo terapêutico. Podemos ainda lançar mão de estratégias farmacológicas e não farmacológicas para a cessação da utilização de cigarros.
Particularidades de um atleta
Não é tarefa fácil, mas é extremamente interessante. Sentar e conversar com um atleta é muito diferente do “paciente convencional”. Temos diante de nós pessoas apaixonadas por exercício físico. Obstinadas e muito aderentes ao que é solicitado, são mais propensas a seguir exatamente o que é sugerido em consulta.
Além disso, frequentemente notamos peculiaridades de atletas no exame físico e em exames complementares. O eletrocardiograma (exame que mostra a atividade elétrica do coração) pode demonstrar diversas alterações fisiológicas específicas. É fundamental que haja um profissional especializado nesse sentido para que não cometamos o erro de proibir atletas de treinarem por alterações que são fisiológicas, e, mais do que isso, também reconhecer alterações que podem denotar fator de risco pra doenças.
Uma vez avaliado o paciente, a Medicina pode fornecer informações interessantes capazes de impactar na performance do atleta. Ao realizarmos exames como Teste Ergométrico e principalmente o Teste Cardiopulmonar, conseguimos fazer uma avaliação detalhada de como se comportam frequência cardíaca, pressão arterial, eletrocardiograma, se o paciente faz ou não arritmias ou sinais de isquemia no esforço. Mais do que isso, conseguimos avaliar no Teste Cardiopulmonar o consumo e a produção de gases, e, com isso, ter informações objetivas sobre o grau de esforço do atleta, qual tipo de combustível (gordura e/ou carboidrato) utiliza previdentemente e em qual grau ele deve treinar para melhorar a capacidade aeróbica ou anaeróbia. Fornecendo esses dados para um bom treinador, munimos o atleta com inúmeras informações objetivas para um treinamento personalizado.
Quando devo procurar um médico?
A avaliação médica é importante sempre que for iniciar alguma fase de treinamento que envolva alta intensidade. A ideia é que seja uma avaliação clínica na essência. Ou seja, uma história bem conversada sobre o cotidiano do atleta, possíveis queixas, com um exame físico apurado pelo médico e um eletrocardiograma. A Diretriz Brasileira de Cardiologia do Esporte ainda cita que em caso de esportes de alta intensidade (como triathlon e corridas de longa distância) vale explorar a realização do Teste Ergométrico ou Teste Cardiopulmonar.
Mais do que isso, uma avaliação multiprofissional, na qual médico conversa com o treinador e com o nutricionista, tem um benefício gigantesco para o atleta. Com isso conseguimos trazer mais especificidade ao que é prescrito.
Silvio Póvoa é médico cardiologista no Dante Pazzanese, Hospital Albert Einstein e Hospital São Luiz Itaim. Mas antes de ser médico, foi nadador federado e carrega isso como parte de sua formação.
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