Opinião: a estreia do PTO Tour
25 de julho de 2022
Por Gabriel Nogueira
História
Formada em Setembro de 2020, a Professional Triathletes Organisation (PTO) é uma entidade sem fins lucrativos formada pelos triatletas profissionais com o intuito de promover o esporte. Desde sua fundação, a entidade tinha como exemplos a ATP/WTA (Tênis) e o PGA/LPGA (Golfe).
A criação no momento da pandemia ajudou a injetar dinheiro no mercado, oferecendo uma espécie de bônus aos triatletas que não puderam competir.
Em 2021, a entidade procurou formar parceria com outros organizadores de prova apostando no modelo de premiação atrativa e verba extra para custeio da transmissão do evento a fim de expandir os números de audiência do tri. A criação da Collins Cup foi o ápice do ano, premiando U$1,5 milhões e trazendo quase todos os grandes nomes do esporte para o evento.
Neste ano, o modelo mudou (o que já era sabido pelos atletas) e a PTO lançou o PTO Tour, série de eventos organizados pela entidade que começou com 2 provas em 2022 (Canadian Open e US Open) e terá 4 em 2023 (entra também o European Open e Asian Open), além da Collins Cup. Cada uma das provas do Tour pagará U$ 1 milhão (para efeito de comparação, o mundial de Kona paga um total de U$ 750 mil).
Canadian Open
Todos os triatletas profissionais queriam estar neste evento, seja pela premiação alta, cobertura televisiva em alguns países e streaming para todo o mundo, bônus de pontuação no ranking ou a chance de se mostrar para os capitães da Collins Cup.
A distância de 100km (2km de natação/80km de ciclismo/18km de corrida), grande aposta da entidade, visa oferecer condições mais igualitárias entre os atletas de longa e curta distância, um mix de velocidade com endurance. A cidade de Edmonton já recebeu inúmeros eventos da World Triathlon e os triatletas estão familiarizados com a região. Mais uma vez, o destaque foi para o ciclismo duro e mais técnico, novamente misturando a técnica dos atletas de curta distância com o endurance dos atletas de longa.
Outro ponto muito importante no ciclismo: zona de vácuo de 20m (ao contrário dos 12m muito normal em provas da marca Ironman). E um detalhe: não teve moto pace, um problema que sempre é levantado pelos triatletas ao redor do globo, quando o atleta que está na liderança é beneficiado pela moto batedora.
Prova Feminina e o vácuo da Suíça
O evento foi feito em dois dias, separando as atletas femininas dos atletas masculinos, cada um com seu espaço de transmissão e dinâmica de prova. Isso é primordial para deixar a prova mais justa possível para todos.
Sábado, dia 23, rolou a prova feminina e foi o primeiro evento do final de semana, onde os erros (da arbitragem, da transmissão e dos atletas) ficariam mais evidentes para que não se repetissem no outro dia.
A prova começou com um show de natação da brasileira Vittoria Lopes, abrindo um gap considerável para as demais atletas. Na segunda volta da natação, a atleta contornou com o ombro errado a bóia de sinalização (passou por dentro da bóia quando deveria ter passado por fora) e a transmissão evidenciou bastante este detalhe. A atleta foi corretamente punida com 30 segs no penalty box.
No ciclismo, a regra de 20m tinha tudo para trazer um pedal mais justo para todas as atletas. Porém, o que vimos foi um excesso de infrações por parte de algumas atletas e sem a devida punição pela arbitragem. A transmissão da prova mostrou um grupo de atletas que saíram para pedalar juntas e começaram a trocar roda, respeitando a distância de 20m. Até aí, tudo certo. Porém, Nicola Spirig, sempre que era ultrapassada, ao invés de tirar o pé e deixar a atleta da frente abrir os 20m, o que é OBRIGATÓRIO nas regras, ficava fazendo força na roda da atleta adversária. E tudo isso sendo exibido na transmissão. Isso ocorreu mais de uma vez.
O triatleta franco-americano Rudy Von Berg postou um stories em seu instagram falando "Você não pode fazer isso, Spirig"
Quando Emma-Pallant e Vittoria Lopes foram cumprir as suas respectivas punições, a transmissão as exibiu na tenda. Porém, nada da Suíça aparecer por lá, o que nos permite afirmar que ela não foi punida. Ontem, na live que fizemos comentando a prova masculina, Pâmella Oliveira entrou ao vivo conosco e comentou que essa situação ocorreu muitas vezes e gerou muitas reclamações das atletas. Então com certeza é um ponto que a PTO precisa corrigir urgentemente!
Agora falando um pouco sobre a prova, a australiana Ashleigh Gentle deu show, fazendo a melhor corrida do dia e sendo a campeã. Completaram o pódio Paula Findlay e Chelsea Sodaro. A brasileira Vittoria Lopes, em sua primeira prova de meia distância, terminou na sétima colocação fazendo um provaço! Pamella Oliveira foi a 16ª e Luisa Baptista da 20ª.
Prova masculina
Na transmissão da prova masculina, talvez pelos problemas relatados do dia anterior, o Diretor de corte (que é responsável por colocar na tela as imagens que os câmeras estão gerando), evitou polêmicas e poucos grupos de ciclismo foram exibidos. Também não exibiram atletas parando no penalty box.
Vimos uma prova com um grupo muito forte saindo sozinho na natação e depois se dissolvendo no ciclismo, restando apenas Alistair Brownlee e Sam Laidlow até o final desta modalidade. Rapidamente, ambos sentiram o esforço que fizeram com Alistair tendo problemas estomacais no começo da corrida e Sam apresentando sinais de câimbras. O francês conseguiu se recuperar e foi o 4º colocado no dia. Alistair acabou na 24ª posição. Mais uma vez, os noruegueses deram show. Blummenfelt pregou um susto em todos quando também sentiu câimbras e teve que deixar Gustav Iden assumir a liderança da prova para não perder mais. Porém, Blummenfelt conseguiu se recompor e a correr forte, assumindo a vice-liderança e quase conseguiu pegar seu compatriota. O australiano Aaron Royle completou o pódio
É o início de um novo futuro?
É inegável que a fórmula montada pela PTO (premiação, field forte, mídia e transmissão) é o que vai profissionalizar o esporte de verdade, com os atletas tendo uma remuneração à altura e as marcas que os patrocinam tendo mais alcance. A PTO também sobe o sarrafo em relação às organizadoras de prova (principalmente a marca Ironman), que precisarão mudar a forma como agem em relação aos atletas profissionais com premiações maiores e também com a realização de grandes eventos.
O ponto de atenção que deixo é em relação ao modelo de negócios da PTO: como os números da empresa são fechados, não é possível saber as suas receitas mas sabemos alguns dos gastos que eles possuem com os atletas (mais de U$ 5 milhões neste ano apenas em premiações). Portanto, para que seja efetivamente o futuro do esporte, a PTO precisa se manter financeiramente. Na exibição do Canadian Open (e aconteceu também com na Collins Cup em 2021), a organização fechou parcerias com grandes produtoras e canais de esporte, o que sinaliza alguns caminhos que ela pode seguir para aumentar as receitas e continuar mudando o nosso esporte. Tomara!
Vida longa ao tri.
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