Por Gabriel Nogueira

Quando falamos de patrocínio no esporte, na maior parte das vezes pensamos em empresas e produtos endêmicos, como suplementos, calçados, óculos, roupas esportivas, entre outros. Mas porque não buscar os outros mercados, o tal "Oceano Azul"?

No última dia 02/02/2025, o holandês Mathieu van der Poel venceu pela 7ª vez o campeonato Mundial de Ciclocross, um feito surreal. Mas o que me chamou atenção foi a foto da chegada dele e não estamos falando da bike: ele estava usando um relógio de luxo da marca suíça Richard Mille no pulso (para os amantes da alta relojoaria, o modelo era um RM 67-02 Automatic Extra Flat). E só para ficar claro: não estamos falando de um smartwatch que marca velocidade, potência, batimento, etc. Estamos falando de um relógio de luxo (valor de mercado de €300.000!) que não afeta em nada a performance do atleta durante a prova. 

Quando os valores batem

Ao ler este parágrafo, por favor interprete assim: NÃO ESTOU FALANDO APENAS DA RM!
Quando buscamos patrocínio, seja de marcas endêmicas ou não, os valores da marca patrocinadora PRECISAM estar alinhados com o seu!

A marca Richard Mille tem em seu DNA trabalhar com atletas. Alguns dos valores que a marca trazem são inovação, tecnologia, design, excelência, precisão e exclusividade.
Atletas como Felipe Massa e Rafael Nadal foram um dos primeiros a usar os relógios da marca (o brasileiro inclusive deu nome para alguns modelos, assim como Nadal). O patrocínio ao Rafa Nadal gerou polêmica na época porque o tenista, que é canhoto, teve que mexer na forma que segurava a raquete para estar com o relógio o tempo todo. Um risco enorme para os dois que mostrou bem sucedido com a parceria começando em 2008, quando a sua história no esporte ainda estava começando a ser escrita (ele estava conquistando "apenas" seu 4º Grand Slam. Ele se aposentou com 22).

A estratégia da marca foi buscar esportes que atingissem o público do consumo de luxo (seu público alvo) mas ao invés de focar em promover eventos de gala ela quis mostrar que seu produto veste os atletas mais incríveis do planeta o tempo todo, 24 por dia. 

E o retorno disso?

Uma partida de tênis pode durar várias horas e toda vez que o tenista bater na bola, o relógio aparece. Na Fórmula 1, o piloto aparece inúmeras vezes no final de semana fora do carro (a parte de estar no carro é a menor, inclusive) e sempre com o item no pulso. A foto do próprio MVDP que circulou inúmeros site de ciclismo pelo mundo gerou uma publicidade orgânica absurda para a marca. A estratégia funcionou demais. Os ciclistas e triatletas que são nerds de equipamento com certeza foram buscar o que o Poel estava usando no pulso na prova (até descobrir que o item é pra poucos rs).

E como trago isso para o meu evento ou para mim como atleta?

Se essa resposta fosse fácil, todo mundo teria feito já né? Mas minha sugestão: sempre beber de outras fontes. Seguir marcas que você goste, consuma ou tenha desejo de consumir, assistir outros esportes mas não apenas como fã, e sim como vendedor de patrocínios: que propriedades estão sendo vendidas, tem algo diferente sendo feito aqui? Esse processo vai te tornar mais criativo, te permitindo criar propriedades de patrocínios diferentes, fora da "caixinha", o que poderá te permitir abordar essas marcas falando a língua delas.

E já que estamos no mundo do triathlon: a Breitilng é patrocinadora do Ironman Global e montou um time com os campeões mundiais. Tentem fazer essa análise de estratégia da marcar e vocês vão perceber que tem muita oportunidade boa para ser desbravada no nosso esporte.  

Abraços e boas vendas!