Desde que a World Triathlon Corporation, detentora global da marca IRONMAN, anunciou a separação dos mundiais em duas sedes distintas, a pergunta era: as pessoas vão querer ir para Nice? 

Kona é o berço da distância e o lugar mais emblemático do nosso esporte, sediando apenas 1 IM Full no ano: o Mundial. Já Nice, apesar de possuir uma tradição bem longa no esporte, já possui sua prova anual (que vai rolar neste final de semana) e agora vai receber o mundial masculino da distância. Detalhe: a prova deste final de semana custa quase a metade do preço da prova do mundial e tem mais de 1.700 atletas inscritos.

Como funciona a rolagem de vagas?

Cada categoria tem uma quantidade de vagas definida conforme distribuição feita pela organização da prova baseada no número de categorias e de atletas em cada uma delas. Quanto mais atletas em uma categoria, mais vagas serão alocadas para ela. A chamada é por ordem de classificação dentro da categoria. O atleta tem que estar presente na cerimônia para pegar a vaga. Se ele não estiver presente ou não quiser a vaga, o próximo nome será chamado, rolando a vaga para o próximo atleta, até completar o total de vagas daquela categoria. Caso sobre vaga na categoria após todos os atletas serem chamados, a(s) vaga(s) será(ão) alocada(s) na categoria com mais participantes.

Kona é Kona

Assim que a mudança foi feita, os atletas masculinos que já possuíam a vaga para Kona 2023 puderam optar por fazer o mundial deste ano trocando a localização, Nice, ou postergar sua participação para 2024 em terras havaianas. Nossa apuração entre atletas brasileiros constatou o que era esperado: a maioria preferiu ir para Kona em 2024.

As provas internacionais estão começando a acontecer em mais quantidades com o verão no hemisfério norte e algumas cenas de rolagem de vagas "infinitas" puderam ser observadas em algumas provas.

Uma matéria do Tri-Today falou da experiência no IM Lanzarote (20/05), onde a quantidade de pessoas negando a vaga foi tão grande que basicamente quem queria a vaga acabou conseguindo-a independente da sua classificação na categoria.

No IM South Africa (05/03), alguns atletas brasileiros relataram o mesmo comportamento: uma rolagem interminável das vagas para Nice até finalizar a distribuição.

E no IM Brasil?

Historicamente, quem já acompanhou um processo de rolagem de vagas para Kona no IM Brasil sabe que a quantidade de vagas roladas é mínima. Muita gente que ficou a 3 posições da vaga nem aparecia na cerimônia porque sabia que não ia sobrar para ele. Todo mundo queria aproveitar a oportunidade de ir para Kona.

Em 2023, a situação foi bem diferente. Foram distribuídas 40 vagas para os atletas masculinos para o Mundial de Nice e outras 40 vagas para as atletas femininas para o Mundial em Kona. 

A alocação de vagas presente nas tabelas abaixo foi feita mediante o regulamento da prova, mas pode sofrer pequenas alterações dependendo da quantidade de atletas de cada categoria que concluíram o evento.

Começando pela categoria masculina:

Se somarmos a coluna "Vagas roladas", o total é de 141. Ou seja, das 40 vagas disponíveis, 141 atletas disseram "não".

A categoria 45-49 foi a categoria com mais rolagens de vagas: 47 no total. 

Já na categoria feminina, a rolagem de vagas foi bem mais tranquila:

A categoria 55-59 possuía 2 vagas, mas apenas uma atleta quis pegá-la. Por isso, a vaga remanescente foi alocada provavelmente na categoria 40-44. 

Historicamente, as mulheres possuíam muito poucas vagas para o Mundial (pela distribuição estatística dos participantes na prova). Desta vez, as 40 vagas foram muito bem aproveitadas com uma pequena rolagem de 10 vagas ao somarmos a coluna "Vagas Roladas".

Será que Nice vai pegar?

Muitos atletas amadores já nos relataram: eu quero ir para Kona.

Isso nos leva a crer que no próximo ano, com Kona sediando o Mundial masculino, a rolagem de vagas será menor entre os homens e maior entre as mulheres. 

A WTC arriscou ao tentar mudar o mundial de lugar pensando em dobrar a quantidade de participantes em suas provas (o dobro de atletas pagando $1600 para competir geraria uma receita bem interessante para a empresa). Quebrar uma tradição de décadas não seria tarefa fácil e, caso a ideia seja mantida, vai precisar de muito esforço para que a dupla sede engate de verdade.

Mas os primeiros sinais não são muito encantadores.